quarta-feira, junho 22

As Coisas, por Jorge Luís Borges

A bengala, as moedas, o chaveiro,
A dócil fechadura, as tardias
Notas que não lerão os poucos dias
Que me restam, os naipes e o tabuleiro,
Um livro e em suas páginas a desvanecida
Violeta, monumento de uma tarde
Sem dúvida inesquecível e já esquecida,
O rubro espelho ocidental em que arde
Uma ilusória aurora. Quantas coisas,
Limas, umbrais, atlas, taças, cravos,
Servem-nos, como tácitos escravos,
Cegas e estranhamente sigilosas!
Durarão para além de nosso esquecimento;
Nunca saberão que partimos em um momento.


Retirado do livro de Elogio da Sombra. Jorge Luís Borges nasceu em 24 de agosto de 1899 em Buenos Aires, Argentina. Tinha apenas 6 anos quando decidiu e comunicou aos pais que queria ser escritor. Aos 7 escreve um resumo da mitologia grega em inglês e aos 8 La visera fatal, espirado em um episódio de Don Quixote. Vivencia aos 14 anos um princípio de perda da visão e em 1935, com a experiência da cegueira completa, tem o nome consagrado pela publicação de seu primeiro livro de contos chamado História Universal da Infância. Nos deixa um legado literário esplendoroso, que conta com contos, ensaios e poesias diversas. Morreu em 14 de junho 1986 en Ginebra..... disse uma vez: “Não criei personagens. Tudo o que escrevo é autobiográfico. Porém, não expresso minhas emoções diretamente, mas por meio de fábulas e símbolos. Nunca fiz confissões. Mas cada página que escrevi teve origem em minha emoção”

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